INTRODUÇÃO
As unidades de terapia intensiva foram criadas na década de 20, para dar assistência a pacientes submetidos a cirurgias delicadas e de alta complexidade, no Hospital John Hopkins nos Estados Unidos (EUA).
Nos anos 50 devido à epidemia de poliomielite os hospitais ficarão sobrecarregados, sendo forçada a criação de centros regionais para o atendimento dos pacientes, na qual a tecnologia e as modernas técnicas de ventilação mecânica prolongada foram implantadas nestes centros, levando a um grande impacto aos profissionais de enfermagem, pois a partir desta novidade os profissionais de enfermagem foram obrigados a aprenderem a manipular os aparelhos e instrumentos.
Considera-se então a unidade de terapia intensiva (UTI) um setor crítico destinado ao acolhimento de clientes graves com chance de sobrevida, em que a atenção e a prestação de cuidados a esses clientes deverão ser continua, que requerem monitoramento constante (24 horas), sendo necessária a prestação de cuidados por diversos profissionais como: médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais e principalmente o enfermeiro junto a sua equipe, formada por técnicos de enfermagem, na qual a ligação profissional e paciente é praticamente direta.
Com os avanços tecnológicos nas unidades de terapia intensiva, a prestação de cuidados deveria ser facilitada e os clientes satisfeitos, mas nem sempre os clientes saem satisfeitos, pois deve se considerar diversos fatores: um desses fatores é o despreparo e a inexperiência de alguns funcionários no manuseio dos equipamentos e aparelhos, tornando o serviço mais cansativo e estressante tanto para o profissional quanto para o cliente.
Diante do fato em que o cliente deve receber um cuidado digno, respeitoso e “humano” independente das circunstâncias, foi criada a política de humanização que tem como um de seus objetivos estimularem a reflexão conjunta sobre a questão da humanização e a realidade institucional em termos da humanização dos serviços de saúde. Deste modo é possível estabelecer a eficácia na prestação de serviço junto com a interação humana.
O cuidado humanizado vem sendo muito discutido principalmente no setor de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto, pois devido à presença de diversos equipamentos, aparelhos e a mecanicidade no processo de cuidar pelos profissionais, a atenção e a prestação da assistência de enfermagem humanizada diante ao cliente fica prejudicada.
De forma em que a tecnologia pode influenciar no cuidado humanizado, devemos levar em considerações diversas opiniões sobre o assunto, pois não há apenas o ponto de vista dos clientes e seus familiares, há também o ponto de vista dos profissionais que realizam a assistência e a prestação de cuidados aos clientes e que manipulam os aparelhos.
Diante deste fato, podemos levantar discussões a cerca do assunto, formando opiniões, refletindo sobre o processo de cuidar, as vantagens e desvantagens que os avanços tecnológicos intra-hospitalares poderão proporcionar aos profissionais e aos clientes.
Este trabalho foi realizado com o intuito de causar uma reflexão aos profissionais da saúde atuante no setor de Unidade de Terapia Intensiva em adultos diante a forma e o processo do cuidar.
Política Nacional de Humanização (PNH)
A política de humanização tornou-se, nos últimos anos, temática recorrente em investigações e reflexões na área da saúde, interessando aos diferentes ramos do conhecimento científico. Vários estudos têm sinalizado a urgente necessidade de gestores e profissionais da saúde adaptarem-se e desenvolverem, em seus locais de trabalho, uma assistência de acordo com a preconizada pela Política Nacional de Humanização (PNH).
Instituída pelo Ministério da Saúde em 2003, a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (HumanizaSUS) foi formulada a partir da sistematização de experiências do chamado "SUS que dá certo. A Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS tem como propósitos:
- Contagiar trabalhadores, gestores e usuários do SUS com os princípios e as diretrizes da humanização;
- Fortalecer iniciativas de humanização existentes;
- Desenvolver tecnologias relacionais e de compartilhamento das práticas de gestão e de atenção;
- Aprimorar, ofertar e divulgar estratégias e metodologias de apoio a mudanças sustentáveis dos modelos de atenção e de gestão;
- Implementar processos de acompanhamento e avaliação, ressaltando saberes gerados no SUS e experiências coletivas bem-sucedidas
Diante da criação da Política Nacional de Humanização, muito se tem discutido a respeito do tema, com muita ênfase em instituições de saúde, especialmente na perspectiva dos clientes e/ou usuários desse serviço, levando como ponto principal destas discussões a interação entre tecnologia, cada vez mais frequentes no ambiente hospitalar, e humanização.
O Avanço da Tecnologia
Com o avanço da ciência e da tecnologia nesses últimos anos, gerou e vem ocasionando impactos diretos sobre as organizações e as profissões do setor da saúde, levando ao mesmo raciocínio de Galian, na qual o mesmo afirma que os grandes avanços científicos e técnicos no campo das ciências da saúde vêm trazendo uma série de transformações, sendo uma das principais consequências, o processo de desumanização.
Em razão do desenvolvimento tecnológico intra-hospitalar, especialmente em Unidades de Terapia Intensiva em Adulto (UTIA), alguns aspectos mais sublimes dos pacientes, tais como suas emoções, suas crenças e valores, ficaram em segundo ou terceiro plano. Ocorrendo assim, insatisfação dos clientes, havendo queixas dos usuários referentes ao serviço prestado pelos profissionais e de sua competência profissional, dificultando o relacionamento interpessoal entre profissionais e clientes.
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é tida como um local onde se presta assistência qualificada especializada, independentemente dos mecanismos tecnológicos utilizados serem cada vez mais avançados, capazes de tornar mais eficiente o cuidado prestado ao paciente em estado crítico.
Considerando que a utilização de alguns aparelhos como ventiladores mecânicos, bombas de infusão, balões intra-aórticos são necessários para manter a vida do cliente, o profissional da enfermagem tem que ter competência para cuidar, pois são tecnologias que exigem habilidade e conhecimento.
Visando a precisão no manuseio de diversos equipamentos, os profissionais de saúde atuante neste setor, com o passar do tempo, não conseguem se dar conta onde “termina a máquina e começa o doente”, transformam a sua relação com a máquina e o cuidado de enfermagem em um ato mecânico, vendo o cliente como uma extensão do aparato tecnológico. Diante este fato é essencial que os profissionais e gestores de saúde tenham o conhecimento adequado de humanização em saúde.
Segundo Lima (2004) “humanizar não é uma técnica ou artifício, é um processo vivencial que permeia toda a atividade das pessoas que assistem o paciente, procurando realizar e oferecer o tratamento que ele merece como pessoa humana, dentro das circunstâncias peculiares que se encontra em cada momento no hospital”.
Para que haja humanização do atendimento em saúde, devem-se considerar alguns aspectos de extrema importância como: o interesse e competência do profissional, o diálogo entre o profissional e o usuário e seus familiares, o favorecimento de facilidades para que a vida da pessoa ou de seus familiares seja melhor, evitar aborrecimentos, constrangimentos, respeitando suas culturas, crenças e necessidades.
Humanizar o atendimento não é apenas chamar o paciente pelo nome, nem ter um sorriso nos lábios constantemente, mas, além disso, também compreender seus medos, angústias, incertezas dando-lhe apoio e atenção permanente. Humanizar também é, além do atendimento fraterno e humano, procurar aperfeiçoar os conhecimentos continuadamente é valorizar, no sentido antropológico e emocional todos os elementos implicados no evento assistencial.
Qual a nossa realidade atual?
Atualmente, podemos observar que a maior parte do quadro de profissionais de Enfermagem sabem muito sobre a máquina e pouco ou quase nada sobre a pessoa que estão cuidando. Podemos considerar a seguinte descrição feita por (SILVA, 2000) na qual diz que: “O paciente hoje não é sujeito, mas objeto e recipiente de determinações ou cuidados de Enfermagem”?
Com o avanço científico, tecnológico e a modernização de procedimentos vinculados à necessidade de estabelecer mais controle, o enfermeiro passou a assumir cada vez mais encargos administrativos, afastando-se gradativamente, do cuidado ao paciente, que passou a ser praticadas, prioritariamente, pelas demais categorias da Enfermagem.
Essa perspectiva de estruturação do saber pode levar os profissionais da saúde a uma situação em que tendem a generalizar os clientes, a ponto de sentirem dificuldades em lidar com aqueles que estão em condições melhores. Assim, é complicado cuidar daquele que fala, que pede, que indaga não apenas com o olhar, que se nega a alguns atos, que se queixa com clareza, ou seja, daquele que pode se manifestar, deixando emergir o sentimento de que ali permanece um ser de relações, um ser de possibilidades. Nesses casos a relação com o paciente poderia deixar de ser tão verticalizada, despersonalizada e tão concentrada no saber científico, no uso do aparato tecnológico disponível e no cumprimento de rotinas.
A resposta para esta problemática parece se encontrar no atuar de cada profissional, na maneira como ele percebe e utiliza a tecnologia no seu cotidiano de assistência ao cliente.
É preciso que a equipe de enfermagem reflita sobre seus próprios valores, seu conhecimento como ser humano e, assim, assuma a responsabilidade pelas suas questões profissionais.
As Unidades de Terapia Intensiva (UTI´s)
Na UTI, ambiente onde existe um alto grau de incorporação tecnológica, os profissionais consideram a tecnologia importante, porém sua utilização de forma indiscriminada poderá acarretar danos.
Crê-se oportuno que consideremos também os sentidos atribuídos à terapia intensiva, não só por parte dos profissionais de enfermagem, mas também por parte do usuário do mesmo.
Dar a devida atenção às máquinas não é necessariamente uma ação mecanicista. Entretanto, cuidar de um cliente dependente da máquina é uma ação humana, ainda que tenhamos que pensar também nessa máquina e no sentido que ela tem para nós.
A grande diversidade tecnológica utilizada pela enfermagem nessas unidades para auxiliar na manutenção da vida é uma realidade que ao mesmo tempo encanta e assusta. Não obstante, apresenta aos profissionais que lidam com ela constantes desafios e questões, exigindo-lhes profundas e constantes reflexões acerca da sua aplicabilidade no cuidado.
Vale destacar que cuidar de máquinas não é um discurso teórico prático tão absurdo, pois se ela em muitos casos mantém o cliente vivo, isso só é possível porque direta ou indiretamente cuidamos delas também.
Profissionais X Máquinas
Programar as máquinas bem como ajustar seus parâmetros e alarmes e supervisionar seu funcionamento são exemplos de cuidados para com elas e com os clientes que delas se beneficiam. No entanto, ao fazermos isso, lançamos mão de conhecimentos técnicos e racionais que fundamentam nossas ações no trato com as máquinas, contribuindo para que essas ações sejam interpretadas como práticas desumanas, principalmente quando estes cuidados provocam no corpo do cliente sinais de dor, sofrimento e desconforto.
Assim, vale destacar que precisamos entender que os conceitos de cuidado de enfermagem e as definições que interessam para a profissão são dinâmicos e deverão variar de acordo com o contexto, com o movimento do mundo e, consequentemente, com as reconfigurações do humano. Portanto, o que se opõe ao cuidado é o descuidado, e isso de fato poderá estar ocorrendo e equivocadamente sendo denominada desumanização.
Compreende-se que a humanização dos serviços de saúde implica em transformação do próprio modo como se concebe o usuário do serviço - de objeto passivo ao sujeito, de necessitado de atos de caridade àquele que exerce o direito de ser usuário de um serviço que garanta ações técnicas, políticas e eticamente seguras, prestadas por trabalhadores responsáveis. Enfim, essa transformação refere-se a um posicionamento político que enfoca a saúde em uma dimensão ampliada, relacionada às condições de vida inseridas em um contexto sociopolítico e econômico.
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